Maioria dos servidores municipais recebe menos de R$ 2.640 mensais, revela estudo do Ipea

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O debate público sobre o salário dos servidores costuma ser marcado por distorções e generalizações que não refletem a realidade da maioria dos trabalhadores do serviço público brasileiro. Com frequência, a mídia e setores políticos utilizam como referência os altos salários de carreiras federais — sobretudo no Judiciário e no Legislativo — para sustentar a narrativa de que o funcionalismo é privilegiado. Uma análise baseada em dados reais, porém, mostra um cenário bastante diferente. De acordo com estudo do assessor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Félix Lopez, a mediana da remuneração no conjunto do serviço público é de R$ 3.281 — o que significa que metade dos servidores ganha esse valor ou menos. “Estamos falando de cerca de dois salários mínimos. Essa é a realidade de 50% do funcionalismo no país. É muito diferente da imagem de privilégios que se costuma vender”, afirma o pesquisador.

A situação é ainda mais desafiadora nos municípios, onde se concentra a maior parte da força de trabalho do serviço público. Dos 12 milhões de vínculos ativos, 60% estão no nível municipal, 30% nos estados e apenas 10% na esfera federal. Nesse recorte, a mediana salarial dos servidores municipais cai para R$ 2.640 — valor recebido por metade dos cerca de 7 milhões de trabalhadores que garantem serviços essenciais como educação, saúde, assistência social, cultura e administração pública. Além disso, a desigualdade interna é significativa: no Executivo Municipal, os 10% com os menores salários recebem até R$ 1.257, enquanto os 10% mais bem remunerados recebem cerca de R$ 6.664. Os dados evidenciam que os salários elevados concentrados em carreiras federais são exceções, não a regra.

Para o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Canindé (SINDSEC), compreender esses números é fundamental para superar discursos que criminalizam o servidor público e enfraquecem as lutas por valorização. “Quando falamos de servidor municipal, estamos falando de quem está na escola, no posto de saúde, no CRAS, na segurança. Estamos falando de trabalhadoras e trabalhadores que sustentam o cotidiano da cidade e que recebem salários baixos frente à responsabilidade que carregam”, afirma a presidenta Regina Lemos. Ela reforça que o SINDSEC continuará atuando para desconstruir narrativas que distorcem a realidade e para fortalecer a luta por justiça salarial, carreira digna e valorização permanente do funcionalismo municipal.

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