Quase nove em cada dez acordos salariais firmados em 2024 garantiram reajustes acima da inflação, segundo o Boletim De Olho nas Negociações nº 52, divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Essa é a melhor performance desde 2018, quando a entidade iniciou a análise sistemática de instrumentos coletivos registrados no sistema Mediador, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No total, 85% das negociações superaram a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), enquanto 11,4% tiveram reajustes iguais à inflação e apenas 3,6% ficaram abaixo. A média de ganho real foi de 1,37%, indicando uma recuperação significativa no poder de compra dos trabalhadores.
A análise regional revelou variações no desempenho dos reajustes. O Sudeste liderou com uma média de 1,51% acima do INPC, seguido pelo Centro-Oeste (1,36%), Norte e Nordeste (1,32%) e Sul (1,18%). Apesar da recuperação geral, os pisos salariais refletem desigualdades: o Sul apresentou os maiores valores médios (R$ 1.806,55) e medianos (R$ 1.762,00), enquanto o Nordeste registrou os menores (R$ 1.619,22 e R$ 1.469,88, respectivamente). Em termos setoriais, o comércio apresentou o menor percentual de ganhos acima da inflação (81,5%), enquanto o setor rural teve a maior proporção de perdas reais, alcançando 5,1%.
Embora 2024 tenha representado um ano de recuperação para os trabalhadores, os dados evidenciam que a evolução dos salários reais é marcada por oscilações desde 2018. Entre 2018 e 2021, os valores sofreram perdas significativas, com recuperação a partir de 2022, alcançando patamares similares aos de 2018, descontada a inflação. O reajuste necessário para recompor as perdas inflacionárias foi de 3,9% em média, mas apresentou alta nos últimos meses de 2024, atingindo 4,84% em dezembro e projetando-se em 4,77% para janeiro de 2025. Embora os dados de 2024 ainda sejam preliminares, o Dieese não prevê alterações significativas no cenário, consolidando o ano como um marco na recuperação salarial após anos de desafios inflacionários.